quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Aos companheiros e companheiras de luta, para ampla divulgação.


Nota de Repúdio da Frente Pró-cotas Raciais da USP sobre o PIMESP
(Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista)



Em novembro de 2012, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
auxiliado pelos reitores das três universidades públicas do estado
(USP, Unicamp e UNESP), veio à público anunciar um programa de cotas
para as respectivas instituições. O projeto, denominado Programa de
Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (PIMESP), tem
como objetivo a “inclusão com mérito”, ou seja, os estudantes cotistas
terão suas vagas garantidas para um college (sistema americano de
ensino, em que o aluno faz um curso básico antes de escolher uma
especialidade) semipresencial. Após dois anos, de acordo com a nota
que obtiver, o aluno poderá escolher um curso.
Consideramos que submeter a um “reforço” os alunos aprovados no
vestibular pelo sistema de cotas é ilegítimo. Instituir o college
seria reforçar uma discriminação negativa e acreditamos que tal
“ensino à distância” isola tais estudantes em seu acesso à
universidade.
Dois anos de espera irão atrasar o desenvolvimento educacional e
profissional dos estudantes cotistas, desestimulando sua permanência
na universidade.
A ideia implícita em tal programa é a noção elitista e racista de que
os estudantes cotistas seriam um entrave ao desenvolvimento da
universidade caso
não dotados de mesmo “conhecimento” que os estudantes não-cotistas
supostamente possuem. Consideramos tal ideia ilegítima dado que
pesquisas
apontam que o desempenho de cotistas é igual ou superior ao dos demais
estudantes e de que nenhum estudante deve ter seu conhecimento medido
e reduzido às lógicas de mercado vigentes nas universidades atualmente.
Além disso, criticamos o fato de que, no PIMESP, não há desvinculação
entre cotas raciais e sociais, ou seja, destinar o percentual de cotas
raciais de acordo
com a composição étnico-racial do estado não irá incidir sobre o total
de vagas, mas dentro dos 50% de vagas destinados a estudantes de
escola pública (o que reduz o percentual de cotas por critério racial,
portanto). Por fim, no que diz respeito à permanência, alunos com
renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo (R$933,00) receberão uma
bolsa-auxílio de R$311,00, abaixo do valor das bolsas oferecidas
atualmente aos alunos, como no caso da USP, que são em torno de
R$450,00.
Esse programa é uma ofensa aos anos de luta que os movimentos sociais
travaram para garantir acesso e reparação à população negra e pobre.
Repudiamos completamente esse programa e exigimos que a implementação
de cotas seja feita em conjunto com os movimentos sociais. Há espaços
criados que vem discutindo isso, como a Frente Pró-cotas Raciais do
Estado de São Paulo, que tem total capacidade de criar um programa que
atenda de fato à população negra. Uma das tarefas que cabem à
Universidade de São Paulo é a de promover políticas significativas de
inclusão e permanência da população negra e pobre.
A responsabilidade social da USP é posta em xeque com a decisão
unânime do STF, em 2012, de que as cotas raciais são constitucionais.
A Frente Pró-cotas Raciais da USP espera que possa ser implantado um
projeto de ação afirmativa que efetivamente dialogue com as
reivindicações históricas do movimento negro
e da esquerda.
Não aceitamos uma proposta que venha “de cima para baixo”.

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